A BOLA DE CAPOTÃO

06/01/2015 12:28

A BOLA DE CAPOTÃO

 

 

A pelada disputada com bola de meia era a alegria das crianças de Gonzaga de Campos, um pequeno posto situado a quatro quilômetros de São José do Rio Preto, única estação ferroviária  que dispunha de um grande embarcadouro para receber as  boiadas vindas da alta araraquarense e  da região mato-grossense.

Essas boiadas tinham como destino a Capital Paulista e eram transportadas até lá pelo “trem boiadeiro”, que tinha dezenas de vagões-gaiolas, sendo estes fabricados com barras e caibros horizontais e transversais entre si, a fim de criar um espaço fechado e ventilado para os animais conduzidos.

Os garotos daquele vilarejo  abandonaram a  bola de meia na ocasião em que conseguiram  uma bola de capotão,  composta de uma câmara de ar  inflável com um bico  de borracha que passava no meio de uma peça circular   de couro que protegia essa câmara  na parte aberta dos gomos de couro.

Essa bola, depois que a câmara de ar ficava inflada pela bomba,  era fechada por fora  por um cadarço feito de couro cru, puxado  de modo a proteger  o bico  e o próprio capotão.

Em Gonzaga de Campos, depois das contribuições dadas  por diversas pessoas, um portador ferroviário , em viagem à Capital Paulista, trouxe a tão esperada bola de capotão e uma bomba para enchê-la.

A estréia da bola de capotão ocorreu em um improvisado campinho situado na rua que ficava em frente ao bazar do “Seo” Agnelo,  ocasião em que uma bolada  quebrou o vidro do balcão desse estabelecimento. 

Esse comerciante, irado, ao ver o vidro do seu bazar quebrado, não teve  dúvida nenhuma, apanhou a sua faca de cortar frios e retalhou a bola, atirando os agora  imprestáveis pedaços de couro  para o meio da rua.

Passado algum tempo, tudo estava resolvido a contento para a criançada, pois uma nova bola de capotão fora adquirida na vizinha cidade de São José do Rio Preto, servindo como intermediário nessa compra o tão amigo portador ferroviário.

Mas, por uma incrível coincidência, os frangos que o “seo” Agnelo criava no fundo do quintal, foram desaparecendo seguidamente, mas, também, por uma incrível coincidência, uma pensão para boiadeiros ali existente, passou a fornecer aos seus clientes carne de frango caipira a  preços convidativos.

O comerciante passou a se queixar amargamente com os seus fregueses dizendo que pessoas desconhecidas haviam furtado frangos e mais frangos do seu galinheiro, sequer  desconfiando da origem espúria do dinheiro usado pela molecada para a aquisição da nova bola de capotão.

JARBAS MIGUEL TORTORELLO