A COBRANÇA

O menino, embora novinho, não estava acostumado a viver em família, recebendo os fatos como podia.

Há pouco havia sido adotado e as chamadas de atenção dos pais passavam da média desejada.

- Menino, como você pode andar tão desarrumado assim, hoje mesmo colocou uma blusa nova e veja como ela está, toda suja e manchada.

- Veja o seu tênis, nem cordão tem mais, sendo que o seu uniforme escolar recebeu manchas e mais manchas de terra avermelhada.

- Veja, você foi tomar um sorvete de casquinha e, agora a sua blusa está toda descorada, necessitando de água, muita água, para ficar limpa.

Assim, era a vida daquela criança, vivendo em um ambiente de pura hostilidade.

Nada de elogios, mas ameaças e mais ameaças, as mais desconcertantes possíveis.

- Menino, com quem você aprendeu a rodar arcos pelas ruas, não sabendo que poderá ser atropelado por um carro no meio da rua?

- Você já pensou o que vai fazer quando ficar grande?

- Vou colocá-lo para aprender ser barbeiro no salão do senhor Guido ou mesmo engraxate com a experiente pessoa da família dos Silva.

E, assim, continuava a vida daquela criança, levando broncas e mais broncas, pitos e mais pitos.

Mas, no futuro bem ele podia levar uma vida comedida e sensata.

Bastaria para isso, a família da criança ter respeito por ela, dando-lhe dos conselhos ensinando a ele atitudes de um verdadeiro homem, bastando para tal respeitar a sua personalidade e seu caráter.

Depois de algum tempo com sua matricula no colegial, passou a cultivar boas amizades.

Vivia com os novos colegas, divertindo-se, caçando borboletas, mariposas, grilos, depois de alojar os seus bichinhos em gaiolas vazias, colocando nomes em todos eles.

Arrumou alguns copos sem uso, plantando neles feijãozinhos, milhinhos e girassóis, acreditando que, com isso, já tinha uma horta e um pomar.

Mas, com o passar do tempo, essa horta e esse pomar garantiam uma vida decente e trabalhadora para esse futuro agricultor.

Matriculou-se em uma faculdade de agronomia, sendo elogiado por todos os  professores.

O seu futuro estava garantido, sendo que exerceria as funções e tarefas dos campos.

Chegou a perfeiçoar-se como agricultor, fazendo a alegria de todas as pessoas que viviam à sua volta.

JARBAS MIGUEL TORTORELLO