A CRIANÇA E O CANARINHO
O menino sentado na calçada da rua de sua casa, ficava horas e horas admirando o melodioso canto de um canarinho que se encontrava preso em uma pequena gaiola, dependurada no alpendre do vizinho que residia logo em frente de sua residência.
A cor amarelada daquele pássaro canoro, também deixava a criança maravilhada e, não foram poucas as vezes que, em seus sonhos ou pensamentos, vinha à sua mente, aquela ave que com agilidade, pulava, de poleiro em poleiro, de um lado para o outro.
A imagem daquele pássaro, com sua alegre melodia, o encantava, mas não o deixava conformado com aquela vida da ave em cativeiro no interior daquela estreita gaiola.
O garoto sempre imaginava que aquele canário deveria ser livre, voando em liberdade pelas matas, sempre em busca dos alimentos naturais encontrados na própria natureza.
Aquela sua alimentação artificial colocada em uma cuia plástica dentro do seu eterno cativeiro, não permitia o passarinho obter a sua alimentação nativa , circunstância que deixava, ainda mais, insatisfeito o espírito infantil, datado de sensibilidade para com os animais.
Mesmo a água que o canário bebia em pequenos goles em um pequeno bebedouro, preso nos arames da gaiola, também não agradava o jovem observador que sempre imaginava que o liquido a ser tomado deveria ser aquele obtido junto aos córregos e rios da região.
Mas tamanha era a sua revolta e indignação que, certa manhã, criando coragem, aproximou-se sorrateiramente da casa do vizinho e, em gesto considerado por ele como heróico, abriu a porta da gaiola, colocando o canário em liberdade.
Nunca mais o menino voltou a parar na calçada de sua casa, mas, em seu pensamento, imaginava o passarinho em eterna liberdade, aproveitando os ares próprios da natureza e voado alegre em liberdade, pulando de arbusto a arbusto, alimentando-se de frutas silvestres e de insetos existentes nas fechadas e inexploradas matas da redondeza.
É certo que jamais aquele menino tornou a ouvir o belo canto daquele pássaro, mas, em compensação, o seu interior ficou sempre impregnado de uma satisfação imensa em ajudá-lo a ganhar a tão esperada liberdade, passando a viver livremente, voando pelos céus brasileiros, de coloração azul, entremeada de nuvens esbranquiçadas.
Era evidente que o canarinho, agora, em sua nova vida, utilizava os riachos existentes nas proximidades como sua banheira, pois a espécie gosta de tomar banho refrescante, buscando também as margens ribeirinhas como local propício para catar os grãos de areia que facilitam a sua digestão.
JARBAS MIGUEL TORTORELLO