A ESCOLINHA

12/09/2017 16:34

 

A escolinha mista de Gonzaga de Campos, um vilarejo vizinho a Rio Preto, era de uma simplicidade de causar inveja.

O prédio tinha um só cômodo, com três janelas e uma porta de entrada, com mesas e cadeiras presenteadas pelos fazendeiros e sitiantes do lugar.

Ela não tinha sequer banheiro, sendo que a água potável era trazida em balde pelo portador da ferrovia e colocada em moringas.

O sanitário da estação ferroviária era utilizado somente pela professora, sendo que os alunos usavam para a finalidade um matagal ali existente.

O estabelecimento não possuía relógio, sendo que o horário era controlado por uma campainha existente na ferrovia.

Também não possuía servente, uma vez que o governo estadual não possuía verba para a finalidade.

Como ela era mista, frequentada por meninos e meninas até o terceiro ano do grupo escolar, sendo que o quarto ano tinha que ser feito no grupo escolar de Rio Preto.

Esse prédio era utilizado não só como escola, mas também para casamentos, aniversários, bailes, missas e reunião de partidos políticos.

Em certa ocasião, quando da realização de um baile, um filho de uma fazendeira ao levar “uma taboa” de uma moça que visitava o lugar, sacou do seu revólver, dando tiros para o alto.

Foi uma gritaria generalizada, uma vez que o salão era iluminado somente por lampiões cedidos pela ferrovia e colocados nas paredes, sendo que muitos participantes tiveram que sair do prédio pelas janelas ali existentes.

Até hoje não se sabe se o autor dos disparos, por ser filho de uma fazendeira, acabou respondendo pelos delitos praticados devendo ficar registrado que houve em virtude da correria, muitas pessoas feridas.

Naquele lugar não havia necessidade de alvará policial para a realização de bailes ou brincadeiras dançantes.

 

JARBAS MIGUEL TORTORELLO