A POBRE CAPIVARA
A capivara , o maior dos roedores na atualidade, parente próxima dos preás e coelhos, por pertencer, segundo o “pai dos burros”, à espécie dos cavídeos, tem atavicamente a cauda atrofiada, mãos com quatro e pés com apenas três dedos.
É “habitué” dos nossos rios e lagos situados nas proximidades das matas e cerrados, sendo catalogada com o nome científico de “hydrochoerus hydrochaeris”, roendo os alimentos, espigas de milho e raizes com os seus incisivos fortes e amarelados, notabilizando-se também por ser uma destruidora implacável dos melanciais em poucas horas.
A incrível habilidade para nadar é uma característica desse mamífero que vive em bandos, tendo vida média de até doze anos, além de chegar a pesar na fase adulta até sessenta quilos.
Merece registro e relato um fato ocorrido quase que recentemente em um município bandeirante, envolvendo uma solteira e desgarrada capivara e algumas pessoas humildes e moradoras da periferia urbana.
Corria sonolentamente no início da década de noventa um final da tarde de uma sexta-feira, ocasião em que na cidade paulista de Murutinga do Sul, situada perto de Andradina e da divisa matogrossense, apareceu surpresamente na rua de um bairro afastado um exemplar dessa espécie roedora, naturalmente desgarrada de sua manada do Rio Paraná ou do Rio Feio ou mesmo do Rio do Moinho.
Descoberta a presença dessa ilustre visitante na cidade, ela foi duramente perseguida nas vias públicas por populares que, armados de porretes, cajados e facas , acabaram por capturá-la e retalhá-la, de nada adiantando os altos assobios emitidos, tão próprios e característicos daquele cavídeo quando em posição de defesa ou mesmo quando assustado.
Como seria natural em caso espécie protegida, a polícia mais próxima e especializada no trato de nossa fauna e flora foi requisitada para a solução e esclarecimento dos fatos ocorridos e que envolviam pessoas, objetos diversos e a capivara .
Esta, afinal de contas, apesar de possuir carne excelente e de apreciado sabor, tem o seu abate terminantemente proibido por lei, exceção aberta para alguns criadores autorizados para a prática desse tipo de comércio considerado ilegal.
Nenhuma pessoa daquela cidade com aproximadamente três mil habitantes sabia explicar aos inquisidores a respeito do destino daquele pobre e infausto mamífero roedor, que, desorientado e desavisado, ali aportara naquela tarde, quase noite, naturalmente em busca de proteção, abrigo e alimentação.
Afinal, apesar de provados e comprovados os fatos, a autoria delitual sempre permaneceu ignorada e em secular segredo pela população , sendo bem possível que a papelada utilizada para a apuração da inusitada ocorrência tenha sido até levada em desconsideração.
Muita gente daquela urbe quando perguntada a respeito daquele invulgar acontecimento, até afirmava e continua afirmando que nunca tinha visto ou não sabia o que seria precisamente essa espécie de animal, mas nenhuma dúvida ficou que o “hydrochoerus hydrochaeris” acabou virando churrasco nas festas de final de ano na tranqüila e simpática Murutinga do Sul.
JARBAS MIGUEL TORTORELLO