A POBRE CAPIVARA

19/12/2014 11:09

 

A capivara , o maior dos roedores na atualidade, parente próxima dos preás e coelhos, por pertencer, segundo o “pai dos burros”,  à espécie dos cavídeos,  tem atavicamente  a cauda atrofiada, mãos com quatro e pés com apenas três dedos.

É “habitué” dos nossos rios e lagos situados  nas proximidades das matas e cerrados,  sendo catalogada com o nome científico de “hydrochoerus hydrochaeris”, roendo os alimentos, espigas de milho e raizes com os seus incisivos  fortes e amarelados,  notabilizando-se também  por ser  uma destruidora implacável dos  melanciais em poucas horas.

A incrível habilidade para nadar é uma característica desse mamífero que vive em bandos, tendo   vida média de até doze anos,  além de chegar a pesar  na fase adulta  até sessenta quilos.

Merece registro e relato um fato ocorrido quase que recentemente  em um município bandeirante,  envolvendo uma solteira e desgarrada capivara  e algumas pessoas  humildes e moradoras da periferia  urbana.

Corria sonolentamente   no início da década de noventa um final da tarde de uma sexta-feira,  ocasião em que na cidade paulista de Murutinga do Sul, situada perto de Andradina e da divisa matogrossense, apareceu surpresamente na rua de um bairro afastado um exemplar dessa espécie roedora, naturalmente desgarrada de sua  manada do Rio Paraná ou   do Rio Feio ou mesmo do Rio do Moinho.

Descoberta a presença dessa ilustre visitante na cidade, ela  foi  duramente perseguida nas vias públicas por populares que, armados de porretes, cajados e facas , acabaram por capturá-la e retalhá-la, de nada adiantando os altos assobios  emitidos, tão  próprios e característicos daquele cavídeo quando em posição de defesa ou mesmo quando assustado.

Como seria natural       em caso           espécie protegida, a polícia mais próxima e  especializada no trato de nossa fauna e flora   foi requisitada para a solução e esclarecimento dos fatos ocorridos e que envolviam  pessoas, objetos diversos e a capivara .

 Esta, afinal de contas,  apesar de possuir   carne  excelente e   de apreciado sabor, tem o seu abate  terminantemente proibido por lei,  exceção aberta para alguns  criadores   autorizados para a prática desse tipo de comércio considerado ilegal.

Nenhuma pessoa daquela  cidade com aproximadamente três mil habitantes sabia explicar aos inquisidores  a respeito do destino daquele pobre e infausto mamífero roedor, que, desorientado e  desavisado, ali aportara naquela tarde, quase noite, naturalmente em busca de proteção, abrigo e alimentação.

Afinal, apesar de provados e comprovados os fatos, a autoria delitual  sempre permaneceu  ignorada e em secular segredo pela população , sendo bem possível que a papelada  utilizada  para a  apuração da inusitada ocorrência tenha sido até levada em desconsideração.

Muita gente daquela urbe quando perguntada a respeito daquele  invulgar acontecimento, até afirmava e continua afirmando que nunca tinha visto  ou não sabia o que seria precisamente essa espécie de animal, mas nenhuma dúvida ficou que o “hydrochoerus hydrochaeris” acabou virando churrasco  nas  festas de final de ano na tranqüila e simpática  Murutinga do Sul.

 

JARBAS MIGUEL TORTORELLO