A SOPA DE CANO

09/01/2015 11:48

A SOPA DE CANO

 

Um andarilho, na sua marcha eterna, sempre com fome, mendigava, aqui e ali, um prato de comida.

Mas, de uma hora para outra, com a eclosão de uma revolução naquele país distante  o pedinte quase nada conseguia para a sua alimentação.

Passou então a freqüentar a zona rural, alimentando-se de folhas e raízes, sendo que sua sede era mitigada pela água dos riachos da região.

Certa vez, chegando a um mísero povoado, teve a idéia de preparar uma sopa com um velho pedaço de cano que levava sempre em sua mochila.

 Colocou a porção de cano dentro de uma velha vasilha e, a seguir, colocou-a em cima de um braseiro de uma fogueira feita na véspera, mas que ainda se encontrava ardente.

A água começou a ferver e o caldo começou a ficar com uma cor amarelada em virtude do desprendimento de ferrugem  existente no interior do cano de ferro.

Uma antiga moradora do lugarejo que a tudo assistia resolveu a colaborar e atirou dentro da panela um pequeno pedaço de carne e uma pitada de sal, sendo imitada por outros curiosos do lugar.

O andarilho, em seguida, colheu algumas folhas e raízes  das árvores jogando-as na água já fervente e, depois, como tinha no bolso de sua calça uma torrada, já dura e  envelhecida, passando  a comê-la, sem pressa, acompanhada do liquido  quentinho, mitigando, aos poucos, a sua fome.

Os moradores do lugarejo ficaram encantados com a aventura gastronômica do pobre  visitante que, antes de partir para outras peregrinações, despejou no chão o que restava no interior da vasilha, não se esquecendo de levar o útil e indispensável  pedaço de cano.

Não há duvida que, naquela nação, seria inevitável uma insurreição para a deposição daquele ditador, que vivia a explorar a miséria dos seus governados, desviando, em proveito próprio, os recursos públicos arrecadados da perturbada  população.

Mas, o andarilho na próxima passagem, daí a alguns meses, que fez naquele lugar, embora continuasse a solver o seu calórico caldo metálico, notou com enorme surpresa que a população já tinha se encarregado da deposição do seu censurável governante.

 

                      

                                                      JARBAS MIGUEL TORTORELLO