AO VENCEDOR, AS BATATAS

18/12/2014 17:57

 

“Ao vencedor, as batatas...”, dizia Quincas Borba, personagem de um romance de Machado de Assis, a significar que na vida a sobrevivência de uns impõe a extinção de outros, frase bastante usada para o reconhecimento da superioridade de um grupo sobre outros, ou mesmo de uma pessoa sobre outras.

Nessa ficção machadiana, no caso da existência de duas facções famintas, caso houvesse  uma luta, a vencedora teria a sua sobrevivência assegurada,  assumindo  o controle do campo de batatas, com  vivência póstera.

Na verdade, a ironia utilizada por Machado de Assis,  criador da expressão “ao vencedor, as batatas”, em seu livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, combateu  um sistema arcaico que era adotado, alicerçado em uma  injustificável escravidão humana, a significar que essa prática não teria mais  lugar assegurado entre os povos cultos.

O vocabulário popular brasileiro é pródigo na utilização da expressão “batata”, ora designando a inchação provocada pela ação maligna de um incômodo bicho-do-pé e, quando se fala em “batata quente”, a referência vem a ser da situação complicada que fica transferida para um semelhante.

A expressão “ser batata” equivale a “não falhar”, enquanto que mandar uma pessoa “plantar batatas” vem a ser o mesmo que mandá-la para longe, a fim de que não provoque mais incômodos ou aborrecimentos.

Na política até hoje ainda sobrevive a secular expressão machadiana “ao vencedor, as batatas”, mas, embora as “batatas sejam quentes”, todos gostam de  segurá-la, e os vencedores não têm outra alternativa senão a  de mandar  os vencidos ...“plantar batatas”...