AS CHUVAS DE JANEIRO

No mês inteiro de janeiro choveu aos borbotões em todos os cantos da cidade, principalmente no Bairro Bonança por onde passa o Rio Piedade, sendo que às suas margens fica o barraco do Chumbinho.

Quem tem casa bem construída, talvez nem tenha notado os estragos que as chuvas fizeram.

Mas, os barracos construídos nos Bairros carentes sofreram e bastante naquela madrugada muito chuvosa.

Chumbinho, que morava no Bairro Bonança e trabalhava como pedreiro no centro da cidade, naquela manhã chegou completamente arrasado no serviço que estava fazendo, um muro de proteção em uma mansão.

Mas, o seu barraco, sua companheira e os seus três filhos sofreram, sob o impacto da chuva que caia de forma ininterrupta.

O teto do seu barraco, feito com folhas de zinco desabou, sendo que a forte correnteza levou tudo rio abaixo, inclusive uma mesa usada pela família para suas refeições.    

Uma cama das crianças também foi levada pela enxurrada, não havendo outra saída senão as três crianças dormirem em uma só cama, porque a outra não servia para mais nada.

O serviço municipal de Proteção ao Bem Estar Social, reconhecendo o estado de calamidade do barraco do Chumbinho, que era pessoa bem popular na cidade, depois de muitos laudos, de muitas medidas burocráticas, arrumou-lhe a quantia de seis salários mínimos.

Chumbinho se incumbiu, recebida essa importância, arrumar o teto do barraco, comprar uma nova mesa e duas camas para as crianças.

Todavia, daí a seis meses quando foi feita a primeira vistoria oficial, verificou-se que o barraco continuava do mesmo jeito, sem o seu teto, sem a mesa e sem as duas camas dos filhos.

Chumbinho usara o dinheiro para comprar um aparelho de som já usado, alegando que os demais moradores de outros barracos, embora carentes e pobres, já eram possuidores desse imprescindível bem de recreação.  

JARBAS MIGUEL TORTORELLO