CHICOTINHO

06/01/2015 17:27

CHICOTINHO

 

Os dois irmãos foram presenteados por um amigo de infância com um jacarezinho que media cerca de dezesseis centímetros e que fora encontrado na margem de uma lagoa.

Imediatamente foi batizado com o carinhoso nome  de “Chicotinho” em virtude das violentas rabanadas que desferia quando molestado por alguém durante o seu descanso.

Todos os familiares ficaram  encantados  e apegados  ao mesmo que, dia-a-dia, aumentava de tamanho, graças à alimentação que recebia.

Era criado no  quintal da casa em   uma bacia grande, com água limpa, passando a ser o orgulho e a alegria, não só dos ali residentes, mas também das crianças da circunvizinhança, que não se cansavam de trazer   amigos para ver e admirar  o pequeno e exótico exemplar de nossa fauna.

Não se sabe como, mas num certo dia, o pequeno réptil conseguiu fugir de sua improvisada moradia, mas foi imediatamente localizado nas imediações quando descansava debaixo de um  arbusto rasteiro ali existente e, em seguida foi  colocado novamente no seu improvisado “habitat” aquático.

Alimentava-se com pequenos pedaços de carne  e,   com o passar do tempo, as crianças começaram a ficar preocupadas com o seu rápido crescimento, não sabendo exatamente o que seria feito com ele no futuro, caso se tornasse um animal grande, pesado e feroz, como aqueles que eram vistos nas telas dos cinemas e nas páginas dos  gibis, mas não pensavam em doá-lo para um jardim zoológico em virtude da afeição que passou a crescer entre eles.

Ocorre que, depois de um certo tempo, logo ao amanhecer, na hora  de sua alimentação matinal,  os meninos surpresamente notaram que pela segunda vez o jacarezinho não se encontrava na sua habitual moradia, sendo infrutíferas as inúmeras tentativas feitas para localizá-lo nos arredores do bairro, apesar de  auxiliados por muitas pessoas.

Um ar de tristeza tomou conta de toda a família, despojada que fora tão precipitadamente do  animalzinho de estimação, recebido com tanto carinho e  criado  com um  mimo de causar inveja .

O prédio, embora sem  nenhum resultado concreto, foi inteiramente vistoriado  para a   localização de  “Chicotinho”, inclusive com buscas no velho porão da casa, incumbência essa que ficou a cargo de alguns  pedreiros  que trabalhavam nas proximidades em obras da construção  que  realizavam  no bairro.

As duas crianças, depois do triste evento, quando conversavam  sobre esse estranho desaparecimento,  jamais descartaram a hipótese de   que “Chicotinho”, estimado por todos, como só poderia ter fugido milagrosamente, morrera mesmo com certeza nas garras de um bichano preto conhecido por “Pantera”, que costumava circular pelos muros da casa, principalmente nos horários noturnos. 

 

JARBAS MIGUEL TORTORELLO