CHICOTINHO
CHICOTINHO
Os dois irmãos foram presenteados por um amigo de infância com um jacarezinho que media cerca de dezesseis centímetros e que fora encontrado na margem de uma lagoa.
Imediatamente foi batizado com o carinhoso nome de “Chicotinho” em virtude das violentas rabanadas que desferia quando molestado por alguém durante o seu descanso.
Todos os familiares ficaram encantados e apegados ao mesmo que, dia-a-dia, aumentava de tamanho, graças à alimentação que recebia.
Era criado no quintal da casa em uma bacia grande, com água limpa, passando a ser o orgulho e a alegria, não só dos ali residentes, mas também das crianças da circunvizinhança, que não se cansavam de trazer amigos para ver e admirar o pequeno e exótico exemplar de nossa fauna.
Não se sabe como, mas num certo dia, o pequeno réptil conseguiu fugir de sua improvisada moradia, mas foi imediatamente localizado nas imediações quando descansava debaixo de um arbusto rasteiro ali existente e, em seguida foi colocado novamente no seu improvisado “habitat” aquático.
Alimentava-se com pequenos pedaços de carne e, com o passar do tempo, as crianças começaram a ficar preocupadas com o seu rápido crescimento, não sabendo exatamente o que seria feito com ele no futuro, caso se tornasse um animal grande, pesado e feroz, como aqueles que eram vistos nas telas dos cinemas e nas páginas dos gibis, mas não pensavam em doá-lo para um jardim zoológico em virtude da afeição que passou a crescer entre eles.
Ocorre que, depois de um certo tempo, logo ao amanhecer, na hora de sua alimentação matinal, os meninos surpresamente notaram que pela segunda vez o jacarezinho não se encontrava na sua habitual moradia, sendo infrutíferas as inúmeras tentativas feitas para localizá-lo nos arredores do bairro, apesar de auxiliados por muitas pessoas.
Um ar de tristeza tomou conta de toda a família, despojada que fora tão precipitadamente do animalzinho de estimação, recebido com tanto carinho e criado com um mimo de causar inveja .
O prédio, embora sem nenhum resultado concreto, foi inteiramente vistoriado para a localização de “Chicotinho”, inclusive com buscas no velho porão da casa, incumbência essa que ficou a cargo de alguns pedreiros que trabalhavam nas proximidades em obras da construção que realizavam no bairro.
As duas crianças, depois do triste evento, quando conversavam sobre esse estranho desaparecimento, jamais descartaram a hipótese de que “Chicotinho”, estimado por todos, como só poderia ter fugido milagrosamente, morrera mesmo com certeza nas garras de um bichano preto conhecido por “Pantera”, que costumava circular pelos muros da casa, principalmente nos horários noturnos.
JARBAS MIGUEL TORTORELLO