DEU VACA NA CABEÇA

Ele era “apontador” do chamado jogo de bicho e conhecido pela população pelo apelido de Zé Macaco.

O seu nome verdadeiro era até pomposo e bem que serviria para figurar como embaixador, ministro, deputado ou senador.

Trabalhava em uma empresa cafeeira, mas desapareceu por alguns dias, ninguém sabendo informar o seu paradeiro.

Mas, a final, era de conhecimento da família, que estava detido na delegacia pelo seu envolvimento no jogo de bicho, figurando nos meios policiais como suspeito de ser bicheiro na cidade.

Explicava ele que depois de ficar nu e amarrado de barriga para baixo em uma mesa, com os olhos vendados, acabou por admitir o seu depoimento anterior, dando mais detalhes a respeito da contravenção praticada na cidade.

Quando amarrado sentia na sala um forte odor de carne assada e também uma forte queimadura em sua nádega, não havendo como não confessar tudo que sabia, uma vez que pensava que sua nádega estava sendo queimada com um ferrete em brasa.

Mas, depois dos fatos, ficou sabendo que a sua nádega estava sendo marcada com um ferrete congelado e não com um em brasas e que o cheiro provinha de carne de vaca marcada com ferro quente, operação que era feita ao lado, na mesma sala.

Mas tendo em vista que o seu interrogatório foi feito com arbitrariedade e ao arrepio da lei, não havia como permanecer calado e negar os fatos.

Depois de alguns dias, tendo reaparecido, explicava que durante a sua detenção, fora obrigado a confessar que era um intermediário dessa atividade ilegal, indicando o nome do “banqueiro”.

Dizia ele que, por orientação do seu advogado, deveria negar tudo, não admitindo que fosse um passador do jogo de bicho.

Depois de liberto, no mesmo dia, não deixou de fazer a sua fezinha, jogando na dezena sessenta e sete, correspondente ao macaco, mas naquela tarde acabou dando vaca na cabeça, com o final noventa e oito.

JARBAS MIGUEL TORTORELLO