DIOGUINHO
Diogo da Rocha Ferreira, conhecido popularmente por “Dioguinho”, nasceu em Botucatu-(SP) nos meados do século XIX mas, tendo ultrapassado cem anos de idade, continua a ser um personagem vivo na mente das pessoas paulistas residentes em várias regiões, como por exemplo Botucatu, Ribeirão Preto, São Simão, Santa Rosa do Viterbo, Batatais, Luiz Antonio e tantas outras.
Frio e calculista, sempre cercado por seus capangas, executou, sempre por encomenda dezenas e dezenas de pessoas e, segundo os que viveram naquela época, não passava de um matador afeminado.
Quando partiu para o crime, sua primeira vítima foi o dono de um circo e, a partir daí, começou a aceitar encomendas de gente importante, em sua maioria, fazendeiros.
Nas páginas de um processo criminal que tramitou na Comarca Paulista de Batatais, as vítimas que sobreviveram às suas tocaias, afirmaram que ele mantinha regulares relações com uma pessoa apelidada por Zeca, filho de um agricultor daquela região, assassinado de forma cruel e covarde, pelo simples fato de ser contrário que era ao relacionamento entre as pessoas do mesmo sexo.
Essa versão foi reforçada pelos pertences deixados na casa do bandoleiro, consistentes em roupas femininas e perucas, além de outros objetos que apontavam no sentido desse desvio comportamental, mas, por incrível que possa parecer, ele chegava a manter também, naquela região, em várias corruptelas, diversas concubinas ao mesmo tempo.
Dizia-se ainda, a respeito desse famigerado facínora, que era uma pessoa elegante, de bons modos e de educação refinada, tratando bem a todos que o rodeavam e conhecido como apreciador de boas comidas, de bebidas finas e de festividades realizadas na zona rural. O seu patrimônio chegou a ser valioso, possuindo muito gado em terras de parceiros nas pastagens por eles exploradas.
Dioguinho, segundo afirmam pessoas ouvidas, sempre foi protegido pelos fazendeiros das regiões em que habitava, nunca chegando a ser preso, apesar de responder em várias comarcas por processos criminais de homicídio e suas várias formas de tentativas.
Na realidade esse bandido bastante conhecido e temido, teve o fim que merecia, sendo o seu corpo encontrado com muitos tiros, nas águas do rio Mogi-Guaçu, vitimado pela chamada “captura”, organização composta por policiais de escol da capital paulista que era incumbida de eliminar os bandidos que infestavam o extenso interior paulista.
Dioguinho, de uma forma ou de outra, não deixou de ser uma lenda e um mito, sendo que a simples menção do nome desse matador nas regiões em que viveu causavam um temor generalizado, pois todos acreditavam na sua impunibilidade, contando-se que, em determinada oportunidade, perseguido pela polícia da cidade de Ribeirão Preto, homiziou-se na casa do capitão da Guarda Nacional, de nome João Antonio Maciel, contra quem, por esse motivo, foram instaurados os competentes inquéritos administrativo e policial.
Depois de sua morte, apesar das seguidas buscas pelo interior do Estado de São Paulo, não foram localizados descendentes, pois nenhum dos que se apresentaram e foram, tinham prova documental de ser parente daquele mito e, segundo consta chegou assinar a ata da primeira Constituição Brasileira.
Embora sendo um sanguinário que aterrorizava toda a região da Mogiana, alguns relataram que ele também ficou conhecido como uma espécie de Robin Hood, pois o que tirava dos ricos, dava aos pobres.
Segundo outras pessoas ouvidas, “Dioguinho”, quando vivia na cidade de Botucatu, freqüentava assiduamente as rodas de capoeiras no Largo de São Benedito, tornando-se um bom capoeirista que usava uma navalha nos pés e dava rabos de arraia em seus adversários, tendo a Câmara Municipal de Sorocaba, no ano de 1850, enviado ao Presidente da Província um ofício com a finalidade de acabar com a prática da capoeira, propondo a prisão do infrator por dois dias, além do pagamento de uma multa de dois mil réis e, caso o praticante fosse um escravo, depois de cumprir as penalidades aplicadas, deveria ser entregue ao senhor para castigá-lo com dezesseis açoites.
Vivendo na época em que a monarquia brasileira cedia espaço ao regime republicano, não seria mesmo novidade que a sua morte tivesse sido preparada pelos policiais, tendo talvez influenciado para a eliminação desse malfeitor, o surgimento do crescente ciclo cafeeiro, com a importante chegada nessas regiões dos imigrantes europeus que vieram substituir os escravos e não poderiam conviver com tanta violência na zona rural.
Na realidade, os elementos encontrados para definir com precisão o que foi ou não “Dioguinho” em sua época, são ricos em estórias, lendas ou mitos, sem lastro exato e objetivo, quer a respeito do seu comportamento pessoal,quer a respeito de suas conquistas nas regiões em que circulava mas, sendo certo que não deixou de ser uma pessoa que executava as vítimas por encomenda, principalmente quando o pedido partia de ricos fazendeiros e para comprovar que havia eliminado a vítima por encomenda, arrancava-lhe a orelha e a remetia ao contratante.
Jarbas Miguel Tortorello