FOGÃO DE LENHA
FOGÃO DE LENHA
O fogão de lenha da nossa casa era feito de alvenaria e ficava acesso durante quase todo o tempo no fundo do quintal.
Nele era feito o café da manhã e fervido o leite e mais tarde preparado o almoço e, no cair do sol, o jantar e, nas horas vagas, eram preparados doces com frutas regionais.
Ainda no fundo do quintal ficava a pilha de lenha para manter o fogão sempre avermelhado e vivo.
O meu pai era incumbido de, com o uso de um pesado machado, transformar os grossos troncos de madeira em lascas de lenha miúda, que acessas as suas chamas ficavam prontas para fazer arder o fogão.
Como não havia padaria em nosso pequeno reino encantado iluminado à noite com lamparinas ou lampiões de carbureto, minha mãe fazia fornadas de pães e, com a massa de farinha, com muita imaginação, transformava-a em animaizinhos, com olhos pretos pelos carvãozinhos aplicados em seus rostos, como boizinhos, cavalinhos, cabritinhos e galinhas, que eram disputados por mim e pelos meus irmãos e irmãs.
Tudo era muito divertido, mas, aos poucos, a paisagem foi modificada no instante em que minha família mudou para uma cidade, onde os pães não eram mais feitos pelo fogão de lenha, mas, sim, nas padarias e entregues, logo de manhã, em nossa casa, por um charreteiro que nos acordava com fortes e seguidas buzinadas.
O pão comprado não era tão gostoso como aquele feito pelo fogão de lenha, mas, aos poucos, assimilamos aos hábitos da cidade.
O implacável destino foi dizimando aquela alegria da gurizada, tomando, cada qual um rumo diferente, procurando o seu modo de viver em outras regiões.
Mas, os nossos pensamentos jamais ficaram desconectados daquele fogão de lenha usado pela minha mãe e dos pães-bichinhos feitos no forno e daqueles grossos troncos de arvores que eram rachados com um machado pelo meu pai.
Nada como aquelas manhãs com os cantos dos galos que nos acordavam e a fumaceira do fogão subindo pela chaminé, ocasião que o café era coado e o leite fervido, sempre na hora, refeição matinal servida e sempre acompanhada pelos pãezinhos assados no fogão de lenha.
Quantas histórias escutamos ao redor do fogão de lenha contadas pela minha mãe e pela minha avó, sempre com um fundo moral, contos que serviram de bússola para todos os seus filhos e os seus netos.
JARBAS MIGUEL TORTORELLO