JUDITE

28/08/2015 11:38

 

Judite era filha única e, desde o seu nascimento, sempre foi tratada pela família com muito cuidado e carinho.

Era prestimosa e amorosa, além de exemplar aluna na escola, recebendo aprovações com boas notas.

Gostava de praticar esporte, principalmente vôlei, em virtude de sua boa estatura, jogando pela seleção de sua cidade.

Formou-se professora especializada na educação de crianças excepcionais, sendo considerada pelas mães como uma das melhores, recebendo  carinho especial por parte de todos os seus alunos.

Já amadurecida, com experiência dos fatos do dia a dia, casou-se com um motorista de ônibus, conhecendo-o nas viagens que fazia para lecionar na associação de pais e mestres.

Ocorre que, já com um filho, com o correr do tempo, o seu marido passou a maltratá-la, chegando a agredi-la seguidamente, fato bastante conhecido e comentado pelas pessoas do bairro em que residia, recebendo apelido de “Amélia”.

As suas amigas conversavam com Judite a respeito desse triste assunto, mas ela se recusava a fazer qualquer comentário ofensivo a respeito do gênio maldoso e doentio do seu esposo.

Sofrera, durante o entardecer de certo dia, uma forte agressão por parte dele, sendo internada no hospital para a consolidação de fratura óssea no braço direito, além de outros ferimentos pelo corpo.

Dizia para o ortopedista que levara uma queda em escada de sua casa, sendo socorrida por uma vizinha, mas que o seu marido, transportou-a até ali.

Mas, a partir de certo momento, ele ficou doente, permanecendo bastante fraco, sentindo fortes dores por todo o seu corpo, apontando o diagnóstico que era portador de uma doença maligna.

Acamado, bastante magro, balbuciando palavras ininteligíveis, mal distinguindo as pessoas e objetos, sempre recebia todos os cuidados dela até a sua morte.

Judite, sempre acreditando no amor ao próximo, preferiu sofrer calada durante anos e anos, em companhia do filho, sem fazer uso dos benefícios da Lei da Maria da Penha, que já vigorava no país há algum tempo.

 

 

JARBAS MIGUEL TORTORELLO