MANO JAYME, UM SIMPLÓRIO IDEALISTA
Um dos meus irmãos, o mais novo, sempre teve muita imaginação, principalmente no difícil jogo de xadrez, considerado em todas as cidades que passou como um grande mestre do tabuleiro.
Os enxadristas mais experientes diziam que ele, em suas jogadas, principalmente na abertura, não seguia nenhuma escola, tudo nascia de uma criação pessoal.
Mas, apesar de sua dedicação aos problemas mais sérios, não deixava de fazer também as suas trapalhadas.
Jayme, certa vez, em uma sexta-feira, já batia meia noite no relógio da Matriz, mas ele não chegava em casa.
A apreensão em casa aumentava cada vez mais, principalmente porque ele não se encontrava nos locais usuais de parada.
Minha mãe, bastante preocupada, sinalizou que ele poderia estar dormindo no cinema do Ciccilo Mastropietro.
Nós, diante dessa possibilidade, acordamos o nosso velho amigo que, imediatamente, abriu as portas do Cine Polyteama, mas, as cadeiras estavam vazias.
Aventou-se a probabilidade dele encontrar-se nas frizas, cadeiras colocadas mais no alto do cinema.
Ele, de fato, estava ali em profundo sono, cansado, como se estivesse trabalhado o dia todo.
O seu retorno ao lar familiar foi bastante comemorado, valendo a pena apenas pelo susto que aplicou em todos nós.
Em certa feita, possuía uma velha bicicleta, que vivia quebrada, trocando-a por um cavalo.
Essa negociação valeu porque, em casa, todos nós, passamos a andar a cavalo pela cidade, embora a pelo, guiados apenas por uma pequena e valiosa rédea.
Esse animal de estimação acabou em uma certa manhã desaparecendo, voltando a preocupação a reinar em toda a família.
Mas, a Polícia Rodoviária de Araraquara acabou encontrando esse cavalo, solto na rodovia asfaltada, devolvendo-o a um cavaleiro matonense, que até lá foi para resgatá-lo, são e vivo.
Ainda bem que, naquela época, não havia necessidade de habilitação para dirigir cavalos.
Hoje, esse irmão caçula, além de ser o fundador da Associação Desportiva São Caetano, conhecida mundialmente como “Azulão”, com muitos títulos conquistados.
Vem a ser também um excelente pai de família, um magistrado paulista, hoje aposentado, que muito honrou a sua profissão, além de mestre em muitas disciplinas jurídicas.
JARBAS MIGUEL TORTORELLO