O APITO DO TREM

15/01/2015 01:04

            As árvores no campo, mudas e caladas, plantadas à beira da ferrovia, assistem à passagem do trem de passageiro.

O viajante, envolto em variegados pensamentos, sentado na poltrona de madeira do vagão, observa pelas vidraças do trem as mudas e caladas árvores do campo.

Enquanto isso as árvores do campo, no seu dia-a-dia, embora vagarosamente, ainda cresçam, mas permanecem mudas e caladas.

Um viajor desce na próxima parada, entrando outro em seu lugar, permanecendo ainda em seu pensamento as mudas e caladas árvores do campo vistas pelas vidraças do trem.

Outro passageiro, nas curvas da ferrovia, debruçado em seus pensamentos, escuta os pungentes silvos da locomotiva, observando também a imensa nuvem de fumaça cinzenta despejada pelas suas chaminés.

Mas a máquina, ainda resfolegante, continua a caminhar pelos trilhos assentados sobre os dormentes e  pedras escuras do leito,  como se saudasse, durante a sua passagem,  os pontilhões, os riachos, as pontes e os bueiros que, um a um,  vão ficando para trás.

A viagem pela ferrovia  chega ao seu fim em um ramal férreo, local em que o trem descansará  um  sono eterno  no desvio coberto por um  matagal.

Aguardam os vagões abandonados o momento em que  serão retalhados para se tornarem de uma vez por todas e  para sempre desprezíveis sucatas, como se um passado de glórias jamais tivesse  existido. 

Demolidas e inexistentes as estações por um simples capricho, não há mais aqueles trilhos, aqueles dormentes, aquelas pedra escuras no leito, aquelas ervas-cidreiras plantadas ao lado do leito.

Restam agora somente resquícios de fantasmagóricas estações, de bueiros sem serventia, de pontilhões desativados, de melancólicos riachos, todos sem vida.

Mas, o mais triste e desolador, é que tudo isso acabou com aquilo que era verdadeiramente maravilhoso e majestoso para todos – o apito do trem de passageiro na última e derradeira curva da ferrovia.  

JARBAS MIGUEL TORTORELLO