O APITO DO TREM
As árvores no campo, mudas e caladas, plantadas à beira da ferrovia, assistem à passagem do trem de passageiro.
O viajante, envolto em variegados pensamentos, sentado na poltrona de madeira do vagão, observa pelas vidraças do trem as mudas e caladas árvores do campo.
Enquanto isso as árvores do campo, no seu dia-a-dia, embora vagarosamente, ainda cresçam, mas permanecem mudas e caladas.
Um viajor desce na próxima parada, entrando outro em seu lugar, permanecendo ainda em seu pensamento as mudas e caladas árvores do campo vistas pelas vidraças do trem.
Outro passageiro, nas curvas da ferrovia, debruçado em seus pensamentos, escuta os pungentes silvos da locomotiva, observando também a imensa nuvem de fumaça cinzenta despejada pelas suas chaminés.
Mas a máquina, ainda resfolegante, continua a caminhar pelos trilhos assentados sobre os dormentes e pedras escuras do leito, como se saudasse, durante a sua passagem, os pontilhões, os riachos, as pontes e os bueiros que, um a um, vão ficando para trás.
A viagem pela ferrovia chega ao seu fim em um ramal férreo, local em que o trem descansará um sono eterno no desvio coberto por um matagal.
Aguardam os vagões abandonados o momento em que serão retalhados para se tornarem de uma vez por todas e para sempre desprezíveis sucatas, como se um passado de glórias jamais tivesse existido.
Demolidas e inexistentes as estações por um simples capricho, não há mais aqueles trilhos, aqueles dormentes, aquelas pedra escuras no leito, aquelas ervas-cidreiras plantadas ao lado do leito.
Restam agora somente resquícios de fantasmagóricas estações, de bueiros sem serventia, de pontilhões desativados, de melancólicos riachos, todos sem vida.
Mas, o mais triste e desolador, é que tudo isso acabou com aquilo que era verdadeiramente maravilhoso e majestoso para todos – o apito do trem de passageiro na última e derradeira curva da ferrovia.
JARBAS MIGUEL TORTORELLO