O COBRADOR DA ÁGUA

22/02/2016 18:27

O COBRADOR DA ÁGUA

 

 

Manhã modorrenta de uma quinta-feira de um de mês bissexto, estando o tempo mais para uma boa soneca do que para uma leve e despretensiosa atividade .

A tarde chuvosa corria vagarosamente, com grossos pingos, mas nada para assustar.

Alguém toca a campainha de casa, perguntei pelo interfone quem era.

- Cobrador da água...

- Quando obtive essa resposta, sabia de antemão que não era a cobrança da água da rua que, há muitos anos, é liquidada  em débito automático em uma agência bancária.

-  Quanto é? Perguntei-lhe.

- Duzentos e trinta reais e cinquenta centavos...

Preenchi um cheque nesse valor, falando para o cobrador, agora pela janela da porta, que seria aberto o portão automático para a entrega do documento bancário.

Aberto o portão, como eu estava descalço, o cobrador adentrou a varanda para o recebimento.

Entreguei a ele o cheque e, mesmo sem conferi-lo, guardou-o na algibeira de um cinturão que trazia preso na cintura.

Ele viera fazer a cobrança em uma motocicleta , saltando nela, lépido, mesmo ainda chovendo, acomodou-se  no banco molhado do veículo, saindo á toda velocidade em busca dos pagamentos de  outros clientes.

Recordei-me que no passado não se vendiam botijões de água mineral, de casa em casa.

Utilizava-se uma talha de barro composta de duas peças, a superior possuía as velas responsáveis pela filtragem.

A água, agora já filtrada, gotejava lentamente para o reservatório inferior que a conservava  fresca e pura, pronta para o consumo

Geladeiras, nem pensar, estavam bem distantes do poder de compra de quase toda a população.

Lembrei-me, a seguir, do padeiro, do leiteiro e do bucheiro daqueles tempos, todos incumbidos da entrega dos seus produtos, de casa em casa.

O padeiro, com sua charrete de pneus, chegava primeiro, buzinando a não mais valer pelas ruas desertas da madrugada, deixando os sacos com   pães dependurados  nos portões.

O leiteiro, chegando em seguida, com sua condução também estrepitosa, fazendo valer a sua buzina, deixando  as garrafa em locais previamente combinados com os clientes.

Em derradeiro,  somente no final da semana, por volta de dez horas da manhã, ouvia-se mais um costumeiro vendedor com seu carrinho,  a gritar pelas ruas:    

- Bucheiro...Bucheiro..., fazendo soar o seu barulhento berrante.

As donas de casa saiam na rua para comprar dele miúdos de vaca e de porco, tais como fígados, línguas, corações, buchos, rabadas e rins.

Depois de atender a frequesia daquela rua, continuava a sua viagem pela cidade,  fazendo um grande barulho com o seu carrinho, continuando a   gritar a plenos pulmões:

- Bucheiro...Bucheiro...

 

JARBAS MIGUEL  TORTORELLO

FEVEREIRO DE 2016