O FILHO DA LAVADEIRA ...
Ele era para as mulheres daquele bairro, o filho da lavadeira e, para os homens, o filho do guarda, que ganhava muito pouco, quase nada...
As referências apenas bastavam, nada de nomes... Para o quê o nome do presenteado?
Quando chegavam as festas de fim de ano, as conversas eram no sentido de que colocando à noite um sapato debaixo da cama, logo pela manhã, aparecia dentro dele um presente do Papai Noel.
Mas, por incrível que pareça, quando muito eram encontradas em nossos chinelos ou alpargatas algumas moedas, quase sem valor, dando quando muito para comprar um sorvetinho de palito.
A alegria da família era passear à noite pela cidade, vendo as vitrinas enfeitadas com serpentinas, confetes e com os presentes que o bom velhinho, com um saco às costas, iria entregar de madrugada, entrando pelas chaminés das casas.
De nada adiantava a família parar em frente às lojas de brinquedos porque somente atrapalharia o vai e vem dos interessados na compra de alguma mercadoria.
O irmão do meio dizia que um seu amigo do grupo escolar ganhara do Noel uma bicicleta de três rodas, falando que o pai dele, um fazendeiro, tinha amizade com ele.
Ora, se os nossos pais não tinham amizade com o bom velhinho, como esperá-lo para ganhar presentes?
E, assim, para nós, filhos de pais pobres, passava mais uma festa natalícia em branco, sem ganhar nenhum presente.
Pudera! Como ganhar presente se em vez de colocar sapatos em baixo da cama, eram colocadas alpargatas ou chinelos?
JARBAS MIGUEL TORTORELLO