O FUTEBOL MONTADO
Quando jovem sempre era convidado para jogar futebol na equipe dos “italianos”, em um lugarejo paulista nas proximidades de Catanduva.
Até aqui nada de novidade, a não ser o fato de minha pouca idade para jogar no meio dos adultos.
O quadro de futebol dos “italianos” tinha campo próprio em sua propriedade, possuindo um meio de transporte adequado para aquela região, que estava mais para o rural do que para um centro urbano.
Cada jogador na sede do clube recebia, no domingo, por volta de doze horas, um cavalo arreado para o seu transporte até o campo da equipe adversária.
Nada de carros, ônibus, caminhões, ou qualquer outro meio de transporte, este era feito mesmo sempre a cavalo, como acontecia em um filme de caubói, que sempre era exibido no sábado à noite no cineminha da localidade.
Os jogadores cavaleiros, juntamente com os dirigentes, o técnico e o massagista, devidamente aparelhados, seguiam em direção ao lugarejo onde ficava o campo do adversário.
Todos os atalhos eram conhecidos pelos moradores da região, não faltando um descanso a meio caminho para os animais se recomporem as suas energias em águas límpidas dos riachos.
O trajeto era feito por hora e meia ou duas horas, tempo suficiente para se chegar ao local onde a partida amistosa seria disputada.
Na chegada da caravana, a mesma era recebida com aplausos e grande manifestação por parte dos adversários e torcedores, sempre em grande número.
Rojões eram espocados, sinal que avisava os moradores mais distantes que a equipe visitante já estava no local, sendo que minutos depois, todos eles, compareciam com as mulheres, filhos e até com os seus cachorros.
Era costume na época, o quadro visitante dar um “sinal”, quantia em dinheiro, como “garantia” do comparecimento para a realização do jogo amistoso.
A data do jogo de volta já era marcada entre os dirigentes, inclusive com o depósito da famosa e hoje esquecida “garantia”.
Eram realizados dessa forma nos feriados e domingos os jogos amistosos, que envolviam todos os quadros de futebol daquela região.
A viagem de volta era feita com a alegria do dever cumprido, chegando ao seu destino, em retorno, entre dezenove e vinte horas, sempre trazendo um troféu, mesmo que fosse por ter conseguido um suado segundo lugar.
A seguir, os “italianos” ofereciam aos componentes da caravana, em comemoração, um churrasco com vinagrete sempre caprichado, com carne de primeira e bem macia, não faltando a cerveja e o refrigerante, além de uma boa música tocada e cantada por violeiros.
JARBAS MIGUEL TORTORELLO
FEVEREIRO/2016