O SEPULTAMENTO
Era uma segunda-feira, véspera de um feriado nacional. O diretor de uma empresa estatal, mais os assessores, reuniram-se para decidir a respeito de uma questão importante: construção de um novo prédio para a nova sede da autarquia.
Dizia o presidente em voz alta para todos escutarem:
- Fechem a porta de entrada, não deixem ninguém entrar até o término da reunião.
No lado de fora estava afixado um aviso: ENTRADA PROIBIDA.
O contínuo atendeu ao pedido, fechando à chave a porta de acesso.
Mas, qual nada, daí a quinze minutos, sequer tinha sido feita a chamada dos presentes, bateram forte na porta.
Como as batidas eram contínuas e insistentes, o contínuo foi autorizado a abri-la, verificando que era uma velhota que necessitava conversar com o presidente.
Dizia ela que era viúva, morava em frente do prédio da autarquia há mais de trinta anos, residindo ali com uma filha solteira e dois netos, que eram umas gracinhas.
O presidente, como se tratava de uma pessoa idosa, talvez quisesse dar uma sugestão a respeito do prédio a ser construído, concordou em recebê-la.
- Meu senhor, obrigado pela gentileza em me receber, poia tenho que lhe fazer um pedido importante.
-Diga logo, minha senhora, afim de que possa continuar a reunião que procura resolver um assunto de importância para a empresa, estando presentes diretores residentes de diversas capitais brasileiras.
- Desejo enterrar meu gatinho de estimação, o querido Mimi, no terreno dessa empresa, onde ele ia sempre brincar, ali sendo a sua segunda casa.

O diretor, fingindo-se calmo, concordou em atender o pedido daquela vovozinha mais descarada do que uma bruxa.
A seguir, aparece na porta um homem trajado de preto, com uma caixa florida na mão, onde em seu interior estava o cadáver da Mimi.
Todos os presentes na reunião foram assistir aquele bizarro sepultamento, onde não faltaram discursos de despedida, além de orações e preces.
A reunião, devido ao adiantado da hora, ficou suspensa, devendo ser remarcada “sine die”, valendo o incidente como um sinal de respeito a esse felino doméstico, que causa muita alegria ao “homo sapiens”.
JARBAS MIGUEL TORTORELLO