O SEQUESTRO

26/08/2015 12:43

 

 

Cintia, na parte da manhã, saiu para fazer saque de pequena importância em uma agência bancária, que se localizava nas proximidades de sua residência.

Ela tinha apenas vinte anos de idade, frequentando o segundo ano, no período noturno, em uma faculdade de administração em cidade vizinha.

Era bastante alegre e comunicativa, possuindo um grande número de amigos, trabalhando durante o dia em uma agência de seguros.

Ocorre que, após realizar o saque no banco, quando saia em direção a sua casa, foi abordada por três pessoas desconhecidas, que depois de a dominarem, colocaram-na no banco traseiro de um carro, que partiu em alta velocidade.

Levaram-na para a zona rural, onde em um pequeno cômodo, sem qualquer mobiliário,  amarraram as suas mãos e seus pés, acomodando-a no chão em um cobertor.

Tratava-se de um sequestro  e com o número do telefone fornecido por ela, os bandidos, daí a três dias, entraram em contato com a família.

Solicitavam para a liberação da refém quinhentos mil reais em dinheiro, quantia que a família de classe média não possuía.

As negociações prosseguiram por várias semanas, sendo até diminuído o valor para o resgate, exigindo os malfeitores que a polícia não tivesse intervenção no caso, sob a ameaça de matá-la.

Cintia, no sequestro, sendo mudado o local de sua prisão por diversas vezes, passou muita fome, emagrecendo bastante, sofrendo muitas agressões e humilhações.

Foi, a final libertada, depois de quatro meses de cativeiro, sendo pago aos sequestradores, um pequeno valor que se ajustava às condições da família.

Mas, o que mais intrigava os pais, amigos e  parentes de Cintia, talvez por ela ter sofrido durante a sua clausura, um estresse físico e mental, estando em jogo de forma inconsciente a necessidade de sua preservação, é que ela, mesmo tendo sofrido aqueles momentos de horror, nutria simpatia por seus opressores, jamais fazendo qualquer referencia maldosa ou desairosa a eles.

Sempre os defendia, talvez presa que estava a uma desvinculação emotiva daquela realidade violenta e perigosa que passara, mas milagrosamente sobrevivera,  sofrendo em virtude disso distúrbios mentais e mudanças radicais em seu comportamento, em seu caráter, em sua personalidade, em seus sentimentos e em suas emoções.  

  

 

JARBAS MIGUEL TORTORELLO