O SEQUESTRO
Cintia, na parte da manhã, saiu para fazer saque de pequena importância em uma agência bancária, que se localizava nas proximidades de sua residência.
Ela tinha apenas vinte anos de idade, frequentando o segundo ano, no período noturno, em uma faculdade de administração em cidade vizinha.
Era bastante alegre e comunicativa, possuindo um grande número de amigos, trabalhando durante o dia em uma agência de seguros.
Ocorre que, após realizar o saque no banco, quando saia em direção a sua casa, foi abordada por três pessoas desconhecidas, que depois de a dominarem, colocaram-na no banco traseiro de um carro, que partiu em alta velocidade.
Levaram-na para a zona rural, onde em um pequeno cômodo, sem qualquer mobiliário, amarraram as suas mãos e seus pés, acomodando-a no chão em um cobertor.
Tratava-se de um sequestro e com o número do telefone fornecido por ela, os bandidos, daí a três dias, entraram em contato com a família.
Solicitavam para a liberação da refém quinhentos mil reais em dinheiro, quantia que a família de classe média não possuía.
As negociações prosseguiram por várias semanas, sendo até diminuído o valor para o resgate, exigindo os malfeitores que a polícia não tivesse intervenção no caso, sob a ameaça de matá-la.
Cintia, no sequestro, sendo mudado o local de sua prisão por diversas vezes, passou muita fome, emagrecendo bastante, sofrendo muitas agressões e humilhações.
Foi, a final libertada, depois de quatro meses de cativeiro, sendo pago aos sequestradores, um pequeno valor que se ajustava às condições da família.
Mas, o que mais intrigava os pais, amigos e parentes de Cintia, talvez por ela ter sofrido durante a sua clausura, um estresse físico e mental, estando em jogo de forma inconsciente a necessidade de sua preservação, é que ela, mesmo tendo sofrido aqueles momentos de horror, nutria simpatia por seus opressores, jamais fazendo qualquer referencia maldosa ou desairosa a eles.
Sempre os defendia, talvez presa que estava a uma desvinculação emotiva daquela realidade violenta e perigosa que passara, mas milagrosamente sobrevivera, sofrendo em virtude disso distúrbios mentais e mudanças radicais em seu comportamento, em seu caráter, em sua personalidade, em seus sentimentos e em suas emoções.
JARBAS MIGUEL TORTORELLO