O TREM RAPA
O TREM “RAPA”
“Rapa”, no entendimento do povo, significa o ato de tirar ardilosamente qualquer coisa do semelhante, principalmente quando o “camelô” com “barraquinha” clandestina para vender quinquilharias contrabandeadas, foge da perseguição dos fiscais municipais, operação esta também conhecida como “rapa”, pois procura se apossar dos objetos expostos nas bancas quase sempre em situação irregular.
Mas, o ferroviário da extinta estrada de ferro araraquarense sempre se valendo de sua inata finura, ironicamente chamava de “rapa” ao trem que mensalmente fazia a entrega, de estação em estação, das mercadorias previamente solicitadas pelos servidores.
Essa expressão “rapa” utilizada pelos ferroviários, significava que o trem que entregava as mercadorias solicitadas, nada mais fazia do que lhes retirar no final do mês parte dos proventos a que tinham direito, fazendo o devido desconto em suas folhas de pagamento.
O trem “rapa” era composto de uma locomotiva que puxava um vagão especial que abrigava a diretoria, um vagão restaurante que servia refeições aos funcionários da composição, um vagão de viagem de primeira classe para acomodar os servidores quando se deslocavam de uma estação para outra, um vagão-dormitório para repouso deles e, cinco vagões de carga onde eram transportadas as mercadorias a serem entregues nas estações.
Desaparecida a estrada de ferro araraquarense, com ela apagaram-se, não só centenas de estações situadas entre as cidades de Araraquara e Porto Presidente Vargas (hoje Rubinéia), deixando também de existir, como em um passe de mágica, os trens passageiros e cargueiros, além do trem chamado de forma irônica de “rapa”.
Enfim, com o desmonte e a irresponsável aniquilação de todas as nossas ferrovias, o brasileiro assistiu desoladamente a destruição daquele incomparável e barato meio de transporte que já existiu e estava em pleno funcionamento, como nos paises mais evoluídos do mundo.
Vale registrar que, quando da chegada do trem “rapa” , a alegria tomava conta da estação e do ferroviário, uma vez que era um acontecimento que fugia à rotina da vida diária, transformando-se, de um momento para outro, a plataforma ferroviária em um autêntico mercado ambulante, comparecendo ao local todos os familiares dos servidores, quer fossem eles agentes, sub-agentes, telegrafistas, portadores, conferentes, praticantes, chefes de trem, ajudantes, maquinistas ou foguistas.
Assim, do trem “rapa” restou somente como lembrança as linhas férreas destroçadas, as estações e as plataformas destruídas, as casas em ruínas dos ferroviários e o ferro velho resultante dos aniquilamento das locomotivas e dos seus vagões.
Jarbas Miguel Tortorello