O TREM RAPA
Na extinta araraquarense havia uma composição encarregada de entregar aos ferroviários, de estação em estação, as despesas mensais encomendadas e consignadas em suas folhas de pagamento.
Esse serviço ajudava em muito os ferroviários e suas famílias, uma vez que eles tinham garantido as suas mercadorias consumidas naquele mês.
Os preços eram os mais baixos possíveis, bem menores que aqueles oferecidos pelas cooperativas de consumo.
Mas, os ferroviários valendo-se de uma grande finura, ironicamente chamavam de “rapa” essas operações, fazendo crer que a empresa ferroviária “rapava” dos seus holerites as importâncias gastas com os mantimentos recebidos.

Esse trem chamado de “rapa”, que passava nas estações uma vez por mês, era composto de uma locomotiva, que puxava um carro especial que abrigava os diretores, funcionários e um carro restaurante que servia as refeições, um carro dormitório para repouso daqueles que trabalhavam durante todo o dia.
Na verdade, com a chegada do trem “rapa” a alegria tomava conta das plataformas das estações, uma vez que tudo aquilo fugia da rotina do lugar.
Esse trem era uma verdadeira magia para todos, restando agora, com o seu cancelamento, somente lembranças daquilo que servia de modelo para todas as ferrovias.
Com o tempo, não só desapareceram os trens “rapas”, mas também os trens de passageiros e os trens de carga, restando para os moradores da cidades somente lembranças de um memorável tempo, que jamais voltará, retalhados que foram os vagões existentes, ficando abandonadas as estações onde os matagais crescem a vontade, sendo ponta de parada para as pessoas desocupadas e os moradores de rua.
O trem “rapa” que era um lenitivo e uma alegria para todos, desapareceu do mapa, valendo somente as lembranças de um tempo em que reinava com toda a sua pompa e majestade.
JARBAS MIGUEL TORTORELLO