O UIRAPURU
O UIRAPURU
O "Uirapuru", também conhecido por "Arapuru", "Guirapuru" e "Irapuru", é uma ave de origem amazônica e o seu canto somente ocorre na época do acasalamento, habitando as margens dos rios e dos igarapés.
A palavra é de origem tupi, significando, segundo a lenda, "pássaro que não é pássaro", quando Tupã transformou Moema, uma índia desprezada pelo namorado Peri, em uma ave, dando-lhe o nome de "Uirapuru", que teria um canto sonoro e maravilhoso.
Irrequieto, não só quando voa com rapidez entre as folhagens, mas também quando se encontra pousado no chão, aparece quase sempre em casais, preferindo as frutas e os insetos como os seus alimentos.
O cantar desse pássaro de plumagem pardo-avermelhado, quando ouvido, faz com que todos os outros passarinhos da floresta emudeçam e passem a escutá-Io, confirmando o que já dissera Tupã sobre a beleza desse canto que espantaria toda a tristeza dos rios e das matas.
É de tradição amazônica que o canto do "Uirapuru" vem a ser uma fonte de saúde, de riqueza e de sorte, sentindo-se revigorados e energizados todos aqueles que têm a felicidade de apreciar o seu canto, um verdadeiro poema musicado.
Um dos maiores compositores brasileiros, Heitor Villa-Lobos, que viajou por todo o Brasil em busca das tradições folclóricas, compôs uma verdadeira poesia sinfônica, a qual deu o nome de "Uirapuru", retratando, com riqueza de detalhes, o viver desse pássaro canoro no encanto das florestas nativas e nos sentimentos dos habitantes ribeirinhos.
A música “Uirapuru”, graças á sua harmonia e beleza, vem a ser entoada pelos vários cantos orfeônicos estudantis brasileiros e pelas grandes orquestras existentes em todo o mundo.
A respeito dessa ave, existem várias lendas, podendo ser lembrada aquela que afirma que , o "Uirapuru" flechado no coração por uma moça que adorava o seu cantar, transformou-se em um guapo indígena, com o qual ela acabou de casando, guardando essa versão uma certa semelhança com aquela atribuída a Tupã.
O folclore ainda registra que, morto o "Uirapuru", o seu corpo poderá ser empalhado ou mesmo secado, servindo como talismã, trazendo alegria, felicidade e dinheiro ao seu possuidor, sendo crença geral que esse verdadeiro mito do mundo alado vem a ser uma divindade que protege e guia todas as outras aves das matas sombrias, conquistando a admiração de todos pelo seu encanto, pela sua simplicidade e pela sua simpatia.
Humberto de Campos, famoso poeta e escritor do Maranhão, dedicou ao "Uirapuru" um soneto, com as maravilhosas estrofes finais: "Eu sei quanto esse canto é suave/ O que, porém, me faz cismar bem fundo/ Não é, por si, o alto poder dessa ave/ O que mais no fenômeno me espanta/ É ainda existir um pássaro no mundo/ Que fique a escutar, quando outro canta".
Outros seresteiros também homenagearam o "Uirapuru" com belas músicas e um deles considerou-o como o seresteiro cantor do sertão, com as seguintes palavras, entre outras, da canção orquestrada: "A mata inteira fica muda ao teu cantar!/Tudo se cala para ouvir tua canção!/Que vai ao céu numa sentida melodia!/Vai a Deus em forma triste de oração".
JARBAS MIGUEL TORTORELLO