Preguinho

08/04/2016 18:24

 

         Preguinho era uma pessoa de pele escura, aparentando não ter ultrapassado os trinta anos de idade.

         Trabalhava como carregador de sacas de café, pesando sessenta quilos cada uma, transportadas em sua cabeça, partindo da carroceria de um caminhão até o armazém da ferrovia.

         Percorria  descalço  nesse trajeto uma distância superior a cem metros, sem contar os seis degraus da escadaria da plataforma da estação, trajando sempre um calção colorido.

          À medida que as sacas de café eram empilhadas dentro do armazém, o trabalho ficava mais difícil, uma vez que as pilhas ficavam cada vez mais altas.

         Levava consigo na cabine do caminhão uma garrafinha com café, solvendo o seu conteúdo por diversas vezes, em pequenos goles.

         Na cidade ele sempre era convidado para retirar mel dos favos das abelhas e, para essa finalidade, sempre usava um defumador, um  chapéu com grandes abas, um macacão branco e uma bota  até os joelhos, a fim de ficar livre das picadas.

          A região era grande produtora de mel em virtude da existência ali de grandes laranjais, assegurando um farto néctar às abelhas.

         Preguinho, nas horas vagas, jogava muito bem futebol, ocupando  a posição de  atacante, procurando sempre imitar as jogadas de Leônidas da Silva, um atleta da seleção brasileira, que tinha como alcunha “Diamante Negro” e, devido a sua elasticidade, também era conhecido como “Homem Borracha”.

         As crianças eram fãs desse carregador de sacas de café, apicultor caseiro e jogador de futebol.

         Mas, como o povo é povo, nada podia ser feito, quando pessoas sem escrúpulos, no período noturno, defronte a um bar ali existente, faziam dele gato e sapato.

         Preguinho aceitava, a troco de cinco cruzeiros, engolir um besouro vivo que voava à noite pelas ruas mal iluminadas do  lugar, servindo essa atrocidade como divertimento para algumas pessoas impiedosas daquele lugarejo.

         Depois de alguns anos sem vê-lo, uma vez que a minha família, sendo ferroviária, mudava sempre daqui para ali, fiz uma visita a passeio naquela cidade.

         Logo, perguntei pelos meus amigos e, entre outros, pelo Preguinho, sendo informado que tinha falecido em virtude de ser vitimado por uma doença desconhecida.

         A notícia era bastante triste, mas não saia da minha mente a figura simpática e bondosa daquele homem quase sem letras, mas bastante trabalhador.

 

 

JARBAS MIGUEL TORTORELLO