SÃO LOURENÇO - CAMPEÃO DE FATO E DE DIREITO
Em Matão era uma manhã ensolarada de uma quinta-feira e a folhinha marcava o ano de 1952.
A campainha soou e Dona Antonia, minha mãe, foi até a área de casa para atendê-la.
- Bom dia, indagava uma pessoa, que vinha acompanhada, aqui que mora “o filho do chefe”?
- Aqui, respondia a minha mãe, tem cinco filhos do chefe, duas filhas do chefe e eu sou “a mulher do chefe” ...
Os cincos filhos eram José Carlos, Jarbas Miguel, Luiz Olinto, Antonio de Pádua e Jaime Aparecido e as duas filhas Maria Estela e Maria Celeste, conhecida por Lelê.
Sete nascimentos, atendidos em casa, por parteiras, nada de maternidade que, na época, quase não existia.
Meu pai, José Tortorello, era o agente da estação ferroviária e a população o conhecia por “chefe”.
Pela conversa que escutava logo me apresentei aos dois visitantes, pois não havia dúvida que eu era a pessoa procurada.
Feitas as devidas apresentações, o primeiro visitante era Luizinho Pereira, dono é técnico do Esporte Clube São Lourenço de Matão.
O segundo, era Jorge Kfouri, que se apresentava como presidente da agremiação, existente há aproximadamente seis anos.
Esse clube, segundo eles, não tinha sede, nem dinheiro, nem estatuto ou estádio, mas apenas jogadores ali formados, que treinavam em um campinho de terra às margens do Rio São Lourenço, que cruza a cidade.
Afirmava Luiz Pereira que estava prestes a ser iniciado um campeonato regional de futebol, necessitando o clube de um atacante e que, pelas informações, eu seria o jogador ideal para ocupar essa posição.
Adiantei-lhes que tinha atuado no futebol em várias cidades, mas poderia não ser o jogador que o clube necessitava.
- Nada disso, dizia o técnico, já o vi jogar em uma partida entre Jaboticabal e Taquaritinga.
Apresentaram-me, em seguida, uma ficha de inscrição que, depois de preenchida e assinada, passei a ser um jovem atleta do Esporte Clube São Lourenço.
O primeiro treino foi naquela mesma tarde no Estádio Municipal Doutor Hudson Buck Ferreira de Matão.
Luizinho Pereira, sem nenhum comentário, já foi me colocando no quadro titular.
Terminado o treino, fui convidado para comparecer às catorze horas de domingo em uma sala da sorveteria do Neno Dalmiglio, local em que time se aprontava para os jogos.
Nas partidas realizadas durante a temporada e o campeonato, jamais houve uma derrota, mas, sim, vitórias e mais vitórias.
O título foi conquistado, de forma invicta, mas o interessante é que o clube e os jogadores jamais receberam o troféu, as faixas de campeão e muito menos as medalhas.
O churrasco pela conquista do campeonato foi realizado no espaçoso quintal de minha casa, a partir das dezoito horas da quarta-feira seguinte, comandado pelo “chefe”, com comparecimento dos inflamados torcedores, de toda a diretoria, dos atletas e dos demais convidados.
Espoucaram rojões e mais rojões, sendo que a festança continuou madrugada adentro pela comemoração do título conquistado, mesmo sem taça, faixas ou medalhas, não faltando muita música tocada por violeiros e sanfoneiros, em homenagem ao Esporte Clube São Lourenço de Matão, um campeão de fato e de direito.
JARBAS MIGUEL TORTORELLO