SIMPATIA QUE DEU CERTO

20/08/2015 11:13

 

 

Aquela cidade com cerca de cinco mil habitantes parece que tinha atrativos com o seu nome de santa. Quem ali morava sempre voltava. Mesmo que fosse para ver a festa do padroeiro.

Ela tinha muitos moradores tradicionais. Quase sempre com apelidos ligados com seu trabalho. Zé ferreiro, Chico chaveiro, Pepe açougueiro, Nino do mercadinho, o Zito da farmácia e assim por diante. Ninguém escapava do apelido. 

Ali acontecia de tudo um pouco. Os olhos, com os cotovelos apoiados na janela, tudo enxergavam. As mulheres tinham olhares de linces, línguas de serpentes, espertezas das águias e ouvidos sempre atentos.

Dona Pedrinha, bastante rechonchuda, sempre com vestidos estampados e compridos até os pés, a troco de um cruzeiro, benzia e tirava a sorte das pessoas.

Para isso, embaralhava as cartas e as colocava em cima de uma mesa, virando uma por uma. Cada naipe significava um tipo de destino da pessoa. Para umas, ela se casaria com uma pessoa milionária e, para outras, ficaria rica, ganhando sozinha uma bolada na loteria.

Assim, de cruzeiro em cruzeiro, Dona Pedrinha aumentava a sua renda de idosa e aposentada. Embora não soubesse sequer ler direito, tinha um vocabulário próprio, quase ininteligível, conseguindo apesar disso passar com dificuldade para os outros aquilo que pensava.

Quando teve uma dor na sola do pé, aprendeu uma simpatia para curá-la. Tinha que cortar uma folha de cactos, amoldá-la aos seus pés, cortando-a rente, jogando o molde durante a madrugada no rio mais próximo.

A pessoa não podia olhar para trás, devendo pronunciar as palavras cabalísticas: “doença ruim, saia do meu corpo”. Tinha que repetir a simpatia durante três dias seguidos.

Não é que essa simpatia deu certo?  Dona Pedrinha usava dessa simpatia para todos os males e doenças das pessoas que ali vinham em procura de cura.

Mas, não deixava de cobrar a quantia de dois a cinco cruzeiros, sempre levando na devida conta a posse da pessoa atendida.

  

 

JARBAS MIGUEL TORTORELLO