TESOURINHA
Tesourinha era um jovem mulato, morando em um bairro da cidade.
Trabalhava como pedreiro, nunca lhe faltando serviços, uma vez que naquela localidade iniciavam-se muitas construções devido ao contínuo aumento da população.
Ele frequentava os meios sociais, inclusive jogando futebol para um clube da cidade.
Nas horas vagas, principalmente nos finais de semana, ajudava a população na construção de uma capela do bairro.

Mesmo estando à igrejinha em construção, no domingo na parte da manhã vinha um padre da cidade vizinha, a fim de rezar uma missa.
O religioso, terminada a missa por volta de onze horas, quando convidado, almoçava na casa de um devoto.
Nesse almoço, não faltava uma deliciosa macarronada, regada a tomate e queijo, acompanhada de um bem temperado frango caipira.
Tesourinha tinha feito uma boa amizade com esse padre, comprometendo-se ajudar no que fosse preciso para terminar a capela.
Ele era muito estimado e conhecido de toda a população e adorado pelas crianças da comunidade, principalmente porque sabia dedilhar o seu velho violão.
Tesourinha, quando terminava o seu serviço de pedreiro, costumava passar em um bar do centro da cidade, a fim de tomar uma caipirinha, acompanhada de um salgadinho.
Depois ia em direção a sua residência, morando a um quilômetro de distância dali.
Tesourinha, em sua ida para sua casa, sempre assoviava uma canção, geralmente um bolero, com uma perfeição admirável.
Entre as músicas que assoviava sempre são lembradas “La Barca”, “Perfídia”, “Bezame mucho”, “Muñequita linda” e “Solamente una vez”.
Era tão bonito o assovio musical de Tesourinha, que todo o bairro parava para ouvi-lo, apreciando muito essas canções.
Até hoje, naquela cidade, Tesourinha, embora tenha se mudado dali para uma outra bem distante, são lembradas as músicas assoviadas, que eram alegres, românticas e sentimentais.
JARBAS MIGUEL TORTORELLO