UM PRESENTE DE GREGO
Há passagens de nossa vida que permanecem como duradouras em nosso pensamento. O término da segunda guerra mundial, ocorrido no ano de 1.945, foi motivo para grandes festividades nas ruas de Rio Preto.
A conquista da primeira copa do mundo pelo Brasil em 1.958 fez os brasileiros vibrarem. Só se falava em todo o país no idolatrado Pelé e nas gingas de Garrincha.
Esses dois acontecimentos ficaram como que marcados em nossas memórias infantis e juvenis.
Mas, uma recordação ficou gravada em nossa mente, consistente num fato ocorrido em classe mista de escola normal paulista.
A professora de Biologia, além do conhecimento que tinha a respeito da disciplina, era benquista pelos alunos que cursavam o último ano do magistério.
Ocorre que, em certo dia, no início de uma aula, no período da manhã, em cima da mesa dessa professora, apareceu uma caixa de tamanho médio, devidamente enfeitada, parecendo tratar-se de um presente.
Quando a mestra, de uma forma delicada e amável, abriu a caixa, do seu interior saltou uma mola comprida e metálica, sendo arremetida contra o forro da sala de aula. Evidentemente não se tratava de um tão esperado agrado, mas de uma brincadeira de mau gosto feita por algum aluno.
A professora, em virtude do grande susto levado, caiu quase que inconsciente no chão, ficando a classe atônita e perplexa, desejando saber quem seria o autor dessa indelicada brincadeira, considerando que a educadora teve que ser socorrida em um pronto socorro existente nas proximidades.
O diretor do estabelecimento, ao tomar conhecimento do fato, ficou possesso e, ao entrar na sala de aula, tinha a intenção de punir o infrator, mas a classe, quando indagada, permanecia muda e calada, significando que entre eles reinava um grande espírito de união.
O diretor deu um prazo de trinta minutos para a classe indicar o responsável, mas nada conseguiu, motivo pelo qual suspendeu metade dos alunos por uma semana, enquanto que a outra metade ficaria em casa por igual período.
A professora depois do ocorrido, com seriedade continuou a lecionar nas semanas seguintes, jamais voltando a conversar sobre o assunto com os alunos.
A classe também, por uma questão de coleguismo, jamais indicou o nome do galhofeiro, não sendo surpresa o fato de a professora de Biologia ter sido escolhida, por votação unânime, como a paraninfa dos formandos daquela turma.
Naquele tempo, ainda bem, não havia sido aprovada a lei da delação premiada, que ficaria reservada no futuro apenas para os governantes e parlamentares, acabando dessa forma, de uma só cambulhada, com o espírito de coleguismo reinante até então entre eles.
JARBAS MIGUEL TORTORELLO