UM TREM CHAMADO TIROLEZA
UM TREM CHAMADO TIROLESA
As oito badaladas do relógio da Matriz, localizada no coração da cidade, tendo como Padroeira Santa Luzia, anunciavam o início da noite, período reservado ao descanso da população.
O telegrafista ferroviário daquela cidade, com seu uniforme cáqui, soava a campainha elétrica, noticiando que o trem de passageiro já tinha deixado Santa Sófia, a estação mais próxima.
A locomotiva, passado algum tempo, anunciava a aproximação do comboio, dando um breve apito quando cruzava um riacho localizado nas a proximidades da estação de Fernando Prestes.
A composição férrea, deslizando sobre os trilhos de bitola larga, parava bem no centro da plataforma, defronte ao escritório da estação.
O maquinista observava pela janela da locomotiva o vai-vem das pessoas pela plataforma, enquanto aguardava o costumeiro abastecimento da caldeira feito por um portador responsável pela bomba d’água.
Os freqüentadores noturnos da estação, como ainda não havia chegado o entretenimento da televisão, aguardavam a chegada desse trem de passageiro, apesar de não esperarem pelo desembarque de alguma pessoa conhecida.
Essas pessoas, ao anoitecer, vinham simplesmente assistir a passagem pela estação do trem apelidado pela população de “Tirolesa”, nome de uma música carnavalesca da época.
A “Tirolesa” se compunha de uma locomotiva, atrelada a um vagão-refeitório e a cinco carros de passageiros e, para sua partida em direção à estação de Cândido Rodrigues, bastava o assovio partido do chefe do trem, imediatamente respondido pelo apito da locomotiva.
Depois da partida da composição, as pessoas se retiravam, mas aguardavam o anoitecer do dia seguinte para rever a passagem pela cidade da Tirolesa, um alegre trem noturno da extinta Estrada de Ferro Araraquara.
Jarbas Miguel Tortorello