UMA VISITA
Ele estava prestes a descansar naquela noite estrelada que se avizinhava.
Durante o dia tinha feito o tempo passar cuidando dos seus livros e da coleção de cromos de futebol.
Nessas figurinhas o pensamento dele se voltava para um tempo bem distante, mas que fazia renascer os ídolos de outrora nos seus clubes e nos selecionados.
Alguns jogadores, hoje esquecidos, tinham feito o seu passado com lembranças dos seus dribles, das faltas cobradas com maestria, das defesas realizadas, as vezes até milagrosamente.
As lembranças do passado também adentravam em seus pensamentos, com se o mundo fosse um eterno carrossel, girando sempre e sempre.
Nesse momento, os seus pensamentos foram interrompidos com o soar da campainha de sua residência.
- Ora, uma visita a essa hora da noite? Quem seria?
Olhando pelo visor da porta de entrada, viu a figura de seu vizinho, que embora residisse tão perto, há um bom tempo que não se comunicavam.
O homem abriu a porta para atendê-lo.
O vizinho, depois de um usual cumprimento, pediu desculpas pelo incomodo daquela hora da noite. Dizendo que naquele horário estava recebendo a visita de um amigo que conhecera em suas andanças.
O vizinho afirmava que fora apanhado de surpresa e desprevenido, com sua geladeira e despensa vazias, necessitando de uma ajuda para receber o amigo.
Ele reconhecendo a dificuldade do vizinho, retirou de suas geladeiras alguns refrigerantes e salgados ali guardados para um aniversário do dia seguinte, fazendo um bonito embrulho para o amigo.
Este, agradeceu a gentileza, voltando para sua casa para receber condignamente a visita.
O homem, com o coração repleto de alegria, em virtude de poder prestar serviços a alguém, aguardou por um bom tempo para o seu descanso noturno.
Não há dúvida que, nesse caso, felizmente a amizade, que deve ser eterna e duradora, superou o incômodo, um fato fugaz e passageiro.
JARBAS MIGUEL TORTORELLO