VIAJANDO NO TEMPO

27/07/2015 18:15

O homem da janela do trem avista a cidade onde viveu durante muito tempo. Seu pensamento se volta para o passado. Seu pai fora telegrafista na estação ferroviária daquele vilarejo.

Quando a locomotiva parou, ele desceu, permanecendo ali até o trem partir em direção à próxima estação.

Avistou, ao lado da estação ferroviária, a casa em que viveu parte de sua infância, notando que tudo estava quase do mesmo jeito.

Desceu a escada da estação, indo em direção ao centro da cidadezinha.

Apesar de passados alguns anos, viu que a loja da esquina ainda estava lá, menos o seu Farid, um árabe que talvez deixara o seu estabelecimento para os seus dois filhos, agora já moços.

O ribeirão que corta o lugar, que era limpo naquela época, também continuava lá, apenas sendo substituída a sua ponte de madeira por outra de cimento.

Eram pescados bagres e lambaris em suas águas e, agora, por certo, esses peixes não podiam sobreviver mais ali, devido às águas  sujas e poluídas.

O prédio da selaria do ‘seo’ Fanim, que fingia ficar bravo porque sua cachorrinha queria comer somente a goiabada “Colombo”, rejeitando as demais marcas, agora era usado para a venda de CD’s e DVD’s.

O jardim, bem cuidado, conservava as suas formas originais, sendo que os bancos de madeiras foram substituídos por outros de cimento revestido em granito e por alguns de ferro fundido.

A igreja, que homenageava Santa Isabel, a padroeira da cidade, com pintura recente, servia como o cartão de visita daquele lugarejo.

 O prédio da prefeitura, ainda bem conservado, tinha novas salas construídas, naturalmente pela necessidade de abrigar mais departamentos e funcionários.

O visitante passou por diversas ruas daquele local, não encontrando ninguém conhecido. “Pudera”, já se passara muito tempo.

Voltou à estação para o retorno, depois de ter relembrado momentos do passado, aguardando durante algumas horas o trem que estava prestes a chegar.

Observando uma locomotiva parada no desvio da estação, voltou a lembrar que naquela época ela era movida à lenha, vomitando labaredas de faíscas de fogo para todos os lados, que deixavam as roupas das pessoas com muitos furinhos.

Mas, agora, ela era mais moderna, tocada à eletricidade e os carros de passageiros tinham os assentos de couro, com fronhas de pano branco na parte superior para o encosto da cabeça.

No passado, os bancos eram de madeira, causando alegria para as crianças que se divertiam quando em passeio, principalmente quando passava por ali o carrinho do restaurante vendendo sucos, doces e salgadinhos.     

 

JARBAS MIGUEL TORTORELLO